Todo escritor se sente um deus.
Não falo isto numa pretensão vã de ter algum dom especial ou porque escritores sejam melhores do que os outros mortais.
Apenas porque o escritor reveste-se de divindade quando cria mundos, gera vidas, suscita histórias e define destinos. Eis aí a nossa divindade.
Quando penso na solidão de Deus ( com D maíusculo) antes da criação, sempre imagino-o como um escritor a morder a ponta da pena e com os olhos voltados para o vazio pensando nas palavras que irá esculpir. E quando criou o mundo, penso que Ele quis um mundo perfeito, repleto de simetria, beleza, estabilidade e simplicidade.
Aí sobreveio em nosso Escritor um tédio insuportável, como alguém que escreve um livro sem personagens. Um livro cujo final já estava definido nas primeiras linhas de sua obra.
É o Tédio da Onipotência.
E Deus preferiu despir-se desta Onipotência plena para criar um ser capaz de decidir e fazer escolhas,
Um ser capaz de surpreendê-lo e arrancá-lo do tédio.
A Raça Humana
Infelizmente muitas destas supresas foram ruins. Mas houve uma bela surpresa que suplantou todas as más notícias conseguiu superar as mazelas que a liberdade humana gerou.
A surpresa do Amor.
Em 2003, Janaína e a Chuva estava emperrado. Foi quando eu decidi abrir mão da minha onipotência tediosa e entregar nas mãos de minhas personagens o destino da História.
E Laetitia assumiu esse papel com maestria e precisão.
Consegui terminar meu romance, recentemente lançado, em menos de seis meses.
Despi-me da onipotência,
Para cobrir-me com o manto da contemplação.