quarta-feira, 3 de outubro de 2007

O Tédio da Onipotência

Todo escritor se sente um deus.

Não falo isto numa pretensão vã de ter algum dom especial ou porque escritores sejam melhores do que os outros mortais.

Apenas porque o escritor reveste-se de divindade quando cria mundos, gera vidas, suscita histórias e define destinos. Eis aí a nossa divindade.

Quando penso na solidão de Deus ( com D maíusculo) antes da criação, sempre imagino-o como um escritor a morder a ponta da pena e com os olhos voltados para o vazio pensando nas palavras que irá esculpir. E quando criou o mundo, penso que Ele quis um mundo perfeito, repleto de simetria, beleza, estabilidade e simplicidade.

Aí sobreveio em nosso Escritor um tédio insuportável, como alguém que escreve um livro sem personagens. Um livro cujo final já estava definido nas primeiras linhas de sua obra.

É o Tédio da Onipotência.

E Deus preferiu despir-se desta Onipotência plena para criar um ser capaz de decidir e fazer escolhas,

Um ser capaz de surpreendê-lo e arrancá-lo do tédio.

A Raça Humana

Infelizmente muitas destas supresas foram ruins. Mas houve uma bela surpresa que suplantou todas as más notícias conseguiu superar as mazelas que a liberdade humana gerou.

A surpresa do Amor.

Em 2003, Janaína e a Chuva estava emperrado. Foi quando eu decidi abrir mão da minha onipotência tediosa e entregar nas mãos de minhas personagens o destino da História.

E Laetitia assumiu esse papel com maestria e precisão.

Consegui terminar meu romance, recentemente lançado, em menos de seis meses.

Despi-me da onipotência,

Para cobrir-me com o manto da contemplação.