Quero voltar à questão da "literalidade" que já abordei.
Sinto falta dos momentos em que meus dedos eram dez loucos entregues às delícias de roçar o teclado e gerar palavras assimétricas, versos tortos e frases que flertavam com a incorreção estigmatizada pela ortodoxia gramatical.
Desde a publicação de JANAÍNA E A CHUVA e suas intermináveis revisões ( fiz dezoito delas) que vivo a seqüela de filtrar e reescrever tudo que nasce das minhas mãos.
Lembro-me da loucura de publicar CLEPSIDRA - CONTOS DO AMOR E DO TEMPO quase sem revisões, repleto de deslizes que muitos nem notaram, mas inteiramente fiel às intenções desenfreadas dos meus "dez loucos".
Há algo de transgressão na minha antiga despreocupação com a pureza de estilos ou mesmo na froteira artificial que criamos entre a prosa e a poesia.
Quando o recôntido estreito da gramática e da ortografia ( belo idioma é o grego que nos deu de presente prefixos tão eloqüentes) me capturou na justificável necessidade de "purificar" o texto de JANAÍNA E A CHUVA antes de expor o meu romance aos olhos do público.
Na verdade, meu maior sonho é abrir as páginas da Veja ou qualquer outra revista semanal e ler algum crítico execrando meu romance....
... quase consigo ler a sua indiginação diante de um "romance de amor com um final feliz".
Pobre mal amado.
Não pretendo ser o melhor escritor do mundo, muito menos ganhar o Nobel ou um assento na Academia Brasileira de Letras.
Meu único desejo é derrotar a certeza ortográfica,
Liberar a imaginação das amarras gramaticais,
Errar... Errar muito...
Errar despudoradamente....
Errar com prazer e emoção de quem não quer mais domar os "dez loucos"!
E, livre do ruido dos olhos atentos ao erro,
Reencontrar a Poesia Indispensável da vida,
E escrever Laetitia em paz.