segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

A Poesia Indispensável

Quero voltar à questão da "literalidade" que já abordei.

Sinto falta dos momentos em que meus dedos eram dez loucos entregues às delícias de roçar o teclado e gerar palavras assimétricas, versos tortos e frases que flertavam com a incorreção estigmatizada pela ortodoxia gramatical.

Desde a publicação de JANAÍNA E A CHUVA e suas intermináveis revisões ( fiz dezoito delas) que vivo a seqüela de filtrar e reescrever tudo que nasce das minhas mãos.

Lembro-me da loucura de publicar CLEPSIDRA - CONTOS DO AMOR E DO TEMPO quase sem revisões, repleto de deslizes que muitos nem notaram, mas inteiramente fiel às intenções desenfreadas dos meus "dez loucos".

Há algo de transgressão na minha antiga despreocupação com a pureza de estilos ou mesmo na froteira artificial que criamos entre a prosa e a poesia.

Quando o recôntido estreito da gramática e da ortografia ( belo idioma é o grego que nos deu de presente prefixos tão eloqüentes) me capturou na justificável necessidade de "purificar" o texto de JANAÍNA E A CHUVA antes de expor o meu romance aos olhos do público.

Na verdade, meu maior sonho é abrir as páginas da Veja ou qualquer outra revista semanal e ler algum crítico execrando meu romance....

... quase consigo ler a sua indiginação diante de um "romance de amor com um final feliz".

Pobre mal amado.

Não pretendo ser o melhor escritor do mundo, muito menos ganhar o Nobel ou um assento na Academia Brasileira de Letras.

Meu único desejo é derrotar a certeza ortográfica,

Liberar a imaginação das amarras gramaticais,

Errar... Errar muito...

Errar despudoradamente....

Errar com prazer e emoção de quem não quer mais domar os "dez loucos"!

E, livre do ruido dos olhos atentos ao erro,

Reencontrar a Poesia Indispensável da vida,

E escrever Laetitia em paz.

Nenhum comentário: