Tenho um coração que se emociona com coisas triviais.
Durante esta semana, estava realizando um trabalho na Cidade de Senhor do Bonfim, no interior da Bahia. Me hospedei no hotel que considero a minha casa naquela cidade: Novo Leste, um belo hotel, por sinal, muito confortável e de bom gosto.
Uma das coisas que mais gosto no Novo Leste é o seu café da manhã. E em uma destas manhãs sonolentas, aconteceu um fato inusitado:
Ao chegar ao restaurante para me servir, notei uma bela morena sentada próximo à TV, coisa rara num hotel normalmente frequentado por homens. Percebi imediatamente o desconforto da moça nos poucos segundos que olhei para ela: Todos os homens, em sua maioria senhores de meia idade como eu, a olhavam com mais apetite do que para as iguarias do café da manhã.
Confesso que olhei para ela, sou um heterossexual assumido, mas não resisti em observar o modo como eles a olhavam: Nunca o sentido da expressão "comer com os olhos" se aproximou tanto do literal.
Percebendo a situação, evitei olhar para ela outra vez. Um misto de respeito e indignação se apoderou de mim. Poderia até ser uma indignação desenecessária, já que eles não fizeram nada demais, mas a minha excessiva sensibilidade me leva aos exageros.
Mas, quando notei que ela terminara o café e saira correndo do restaurante, sem deixar de me dar um olhar eivado de insegurança e desconcerto, imediatamente me senti no lugar dela. Com certeza, sendo mulher, não me sentiria bem sendo devorado pelos olhos sequisos do sexo oposto.
São experiencias de desconcerto como estas vividas pela moça do café da manhã que me levaram a construir Janaína. Colhi na feminilidade elementos de candura e fragilidade, amalgamados com uma extrema beleza física, para compor esta personagem.
Expondo-se à sanha pseudo-sedutora de Jean,o ex-namorado de sua irmã, Janaína foi vítima da maior humilhação que uma mulher pode sofrer: O Estupro.
Quando tive a idéia de expor uma personagem tão linda e frágil a um momento tão violento, quis constrastar forças aparentemente irreconciliáveis: O desejo muito mal contido que deseperta nos homens (inclusive eu) ao ver uma mulher interessante e a intensidade dos sentimentos de uma mulher que, muitas vezes, nem sabe que é tão bonita.
Daí vem um processo de imersão profunda na dita "alma feminina", indispensável na construção de belezas tão grandes... tão intensas que, algumas vezes, minam pela pele e se expõe aos olhos masculinos, tão míopes aos detalhes.
Eis o momento crucial: Optei em descrever o momento exato em que Janaína sofria tal violência... sob o ponto de vista dela.
Ao terminar o texto... Chorei.
Janaína precisava ser amada, depois de tanto sofrimento.
Depois deste momento, levei dois anos sem colocar uma letra sequer em Janaína e a Chuva
Imersão e Encanto...
Com mais intensidade, precisei colocar o meu olhar na alma das mulheres.
Só assim consegui concluir o meu Romance.