Em 1983, em uma bela tarde de fim de adolescência no Shopping Iguatemi, entrei na loja de discos (de vinil) das Megastore Sandiz .
Com o olhar perdido entre a beleza das meninas de classe média que esvoaçavam na seção de discos de rock e a pouca variedade de discos de música erudita que eu vasculhava, encontrei um amontoado de discos separados em uma seção que não me recordo o nome, mas bem que poderia se chamar "discos feitos para não serem vendidos"
Num futuro próximo, esta tal seção ganharia o apelido infame de "New Age".
No meio de discos de músicos indianos com nomes impronunciáveis, encontrei uma obra prima: "Private Collection", do músico grego Vangelis Papatanassiou e do ex vocalista do YES, Jon Anderson, ainda desconhecidos para mim.
Fiquei curioso. Mas era impossível ouvir discos de vinil sem comprá-los, pois era o único exemplar a venda. Para os mais jovens, ouvir um disco de vinil sem comprá-lo era um verdadeiro risco para a loja, diante da fragilidade da mídia.
Acabei comprando aquele que viria a ser o disco mais importante da minha vida.
Quando cheguei em minha casa, corri para o pick up para ouvir, quando a voz delicada e quase feminina de Jon Anderson entrou em meu coração... Para nunca mais sair.
A doçura melodiosa das texturas eletrônicas de Vangelis contrastava violentamente com o bate estaca pré techno do Kraftwerk, que eu costumava ouvir. Acabei ouvindo o disco seis vezes seguidas, com a caixa de som colada ao ouvindo, duante a madrugada.
Uma das músicas eu ouvi muito mais: 4 minutos e 54 segundos de transformação para mim, repetidos inúmeras vezes.
Neste dia, eu me transformei em um romântico.
O nome da música é Deborah.
Apesar de ser uma carta escrita para a filha de Jon ( Deborah Anderson), esta música acabou registrada em um lugar muito especial da minha alma:
A trilha sonora do amor da minha vida. Uma mulher que ainda não havia descoberto.
O primeiro exotismo do amor.
Ela me conheceu ouvindo Kraftwerk e, provavelmente, me rotulara de "o amigo maluco do meu quase namorado".
Meses depois.... Duas decepções amorosas depois... Me vejo ouvindo Deborah e olhando pela janela da minha casa, com a certeza absoluta que... Naquela noite de janeiro de 1984... Ela estaria olhando para a constelação de órion e, nas luzes de Bellatrix nossos olhares estariam entrelaçados.
Ouvindo Deborah... eu senti saudades dela.
Pela primeira vez.
E Deborah se transformara na trilha sonora da minha vida...
Meu coração estava cada vez mais entregue aos exotismos do amor.
Hoje, depois de oito anos de namoro e 15 anos de casamento, desperto pela manhã com o fone do meu MP3 desenhando Deborah em meu coração mais uma vez...
E os olhos cor de mel de Carla, entreabindo-se ante o meu carinho...
Me provam mais uma vez,
O quanto amar vale a pena.
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